A Relevância das Sete Igrejas Hoje
As Sete Cartas do Apocalipse, escritas pelo apóstolo João no primeiro século durante seu exílio em Patmos, foram endereçadas a igrejas reais na Ásia Menor, abordando desafios específicos de cada comunidade, como perseguição, heresias e complacência. Em janeiro de 2025, a Edições Bereia lançou uma edição especial da Revista Examinai dedicada a essas cartas, oferecendo lições para escolas dominicais e grupos de estudo. Neste artigo, abordamos de forma resumida a relevância dessas cartas para a Igreja de hoje.
TEOLOGIANOVO TESTAMENTOREV. MARCELO LEMOS
Rev. Marcelo Lemos
2/4/20254 min read
Em janeiro de 2025, a Edições Bereia lançou uma edição especial da Revista Examinai dedicada a explorar as Sete Cartas do Apocalipse, oferecendo lições detalhadas para escolas dominicais e grupos de estudo. Essas cartas, registradas no livro bíblico do Apocalipse, foram escritas pelo apóstolo João durante seu exílio na ilha de Patmos antes da Destruição de Jerusalém, em 70 d.C. Muitos autores situam a obra em data posterior, como 95 d.C. Na Antiguidade Cristã temos exemplos de opiniões como a de Clemente de Alexandrina que menciona que João teria escrito o Apocalipse depois da perseguição de Domiciano (c. 95 d.C.), o que sugere que ele não via o livro como um anúncio da destruição de Jerusalém, mas sim de eventos posteriores.
Pessoalmente, fico com uma data mais antiga, por considerar o Apocalipse relacionado aos eventos ocorridos como cumprimento das profecias de Jesus contra Jerusalém. Nenhuma outra leitura é tão natural quanto esta. O que não significa que o Apocalipse não tenha relação com o futuro da igreja hoje ou amanhã. E desde a Antiguidade as pessoas sabiam disso. No História Eclesiástica, Eusébio menciona várias interpretações sobre o fim dos tempos, mas adota uma posição mais histórica, vendo os eventos do Apocalipse como cumpridos parcialmente na destruição de Jerusalém em 70 d.C. Esta é, em essência, uma abordagem saudável.
Seja como for, as Sete Cartas foram endereçadas a sete igrejas localizadas na Ásia Menor (atual Turquia) e continham mensagens específicas para cada comunidade cristã da época. O objetivo dessas cartas era encorajar, corrigir e alertar as igrejas sobre questões espirituais, éticas e doutrinárias que enfrentavam.
Cada carta segue uma estrutura semelhante: uma introdução que identifica Jesus Cristo de maneira única, um elogio ou reconhecimento das virtudes da igreja, uma crítica ou advertência sobre suas falhas, uma exortação ao arrependimento e uma promessa para aqueles que vencerem. As sete igrejas — Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia — representam diferentes contextos e desafios, desde a perseguição externa até a complacência interna.
Ao longo da história, as Sete Cartas têm sido interpretadas de diversas formas. Alguns estudiosos as veem como mensagens exclusivamente históricas, destinadas às igrejas do primeiro século. Outros as interpretam de maneira profética, entendendo que cada igreja representa um período específico da história da Igreja Cristã. Há ainda quem as considere de forma prática, aplicando seus princípios às igrejas de todas as épocas, incluindo os dias atuais.
Desde os dias dos apóstolos, a Igreja de Cristo é chamada a permanecer fiel em meio a um mundo corrompido pelo pecado, enfrentando perseguições, tentações e desafios que variam conforme as eras, mas cuja essência permanece a mesma: a luta contra tudo o que se opõe ao Reino de Deus. O próprio Senhor advertiu que "no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (João 16:33), lembrando-nos de que a fidelidade ao Evangelho exige resistência diante das pressões culturais e espirituais que buscam desviar a Igreja de sua missão. Hoje, os desafios continuam, manifestando-se na pobreza que clama por justiça (Provérbios 14:31), na intolerância que divide povos e nações (Efésios 2:14-16), na idolatria política que tenta substituir a soberania de Deus por líderes humanos (Salmo 146:3), e nas ideologias que se levantam contra a verdade de Cristo (Colossenses 2:8). Diante desse cenário, a Igreja não pode se conformar com este século, mas deve renovar sua mente para discernir a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:2). O livro do Apocalipse oferece um lembrete poderoso dessa realidade, especialmente nas sete cartas às igrejas da Ásia (Apocalipse 2–3), onde Cristo exorta Sua Igreja a permanecer firme, repreendendo a mornidão de Laodiceia (Ap 3:15-16), elogiando a fidelidade de Esmirna diante da tribulação (Ap 2:10) e chamando Éfeso a restaurar seu primeiro amor (Ap 2:4-5). Assim, cada geração de cristãos é convocada a rejeitar a apostasia, resistir ao pecado e proclamar o Evangelho com coragem, sabendo que "quem perseverar até o fim será salvo" (Mateus 24:13), pois a vitória pertence àqueles que permanecem fiéis ao Cordeiro (Apocalipse 14:12).
Embora essas cartas tenham sido escritas para igrejas reais no contexto do primeiro século, abordando questões específicas daquela época, sua relevância transcende o tempo. Elas tratam de temas universais, como fidelidade a Deus, resistência à perseguição, pureza doutrinária e a importância do amor genuíno. Essas mensagens continuam a desafiar e inspirar os cristãos hoje, servindo como um espelho para avaliar a saúde espiritual das comunidades de fé e dos indivíduos.
Em conclusão, as Sete Cartas do Apocalipse, embora escritas há quase dois milênios, mantêm sua importância e relevância para os cristãos contemporâneos. Elas nos lembram da necessidade de vigilância, arrependimento e compromisso com os valores do Reino de Deus, oferecendo orientação e esperança para aqueles que buscam viver uma vida cristã autêntica em um mundo em constante mudança.